Yoon Seok-yeol Evade primeira prisão: apesar de mandado, Ministério Público da Coreia do Sul teme entrar no Palácio Presidencial
Passados apenas alguns dias de 2025, um novo capítulo da crise constitucional da Coreia do Sul foi escrito sob a forma de um drama de mandado de prisão.
No dia 3 de janeiro, após um confronto tenso que durou mais de cinco horas, investigadores sul-coreanos não conseguiram prender o presidente do país, Yoon Seok-yeol, no seu residência, no centro de Seul.
Por que foi tão difícil para as autoridades entrarem na residência presidencial? Por que o escritório do promotor público da Coreia do Sul não entrou na residência à força? E o que vem a seguir para Yoon após ele ter evitado a prisão?
Pela manhã do dia 3 de janeiro, a equipe de investigação do escritório do promotor público (CIO) sul-coreano chegou à residência em um veículo que partiu do escritório satélite do governo em Gwacheon, uma cidade satélite de Seul.
A equipe chegou à residência presidencial no Hanam-dong, Jongno-gu, no centro de Seul, às 7h21 e entrou na residência às 8h02, depois de mover um cordão policial.
Para garantir que o procedimento ocorresse de forma tranquila, agentes da Polícia Metropolitana de Seul foram enviados para o local. Eles estavam lá para manter a ordem enquanto a equipe especial de investigação tentava prender o presidente deposto.
No dia 3 de janeiro de 2024, em Seul, na Coreia do Sul, promotores especiais do órgão de investigação de crimes de funcionários públicos de alto escalão do país vão para a residência presidencial para iniciar sua tentativa de prender Yoon Seok-yeol
Ao todo, 150 agentes – 30 do CIO e 120 da equipe especial de investigação da polícia – estiveram envolvidos na ação. Oitenta membros da equipe especial de investigação entraram na residência, enquanto 70 ficaram no pátio da residência. Um total adicional de 2.800 policiais ficaram em alerta caso houvesse algum conflito violento entre os investigadores e membros do esquadrão de segurança de Yoon. Embora os investigadores tenham conseguido contornar o perímetro da residência presidencial, protegida pela Agência de Segurança Presidencial (PSO), a operação não teve sucesso quando eles tentaram entrar na residência em si.
Um "muro humano" composto por 200 membros do PSO e militares impediu a entrada. Durante o impasse, membros da equipe especial de investigação do CIO se confrontaram com membros do esquadrão de segurança de Yoon e houve alguns desentendimentos físicos. O impasse durou cerca de cinco horas e meia.
Muitos dos apoiadores de Yoon também se mobilizaram para bloquear o acesso à residência oficial, cercando a área em um esforço para impedir a prisão. Imagens do impasse mostram os apoiadores segurando bandeiras tanto da Coreia do Sul quanto dos Estados Unidos, gritando "Revoguem o Impeachment!" e "Nós protegeremos o presidente Yoon Seok-yeol!" O show de força dos apoiadores ocorreu um dia depois que cerca de 30 membros do grupo foram vistos deitados na frente do portão principal da residência oficial em um esforço para bloquear a entrada de policiais no complexo.
Enquanto isso, a Casa Azul permaneceu com o discurso fechado sobre cooperar com os esforços do CIO para prender o presidente deposto. O discurso oficial era de que dúvidas sobre a reação legal de Yoon ao seu impeachment deveriam ser direcionadas para sua equipe jurídica.
No fim das contas, o CIO anunciou que encerraria os esforços para prender Yoon após uma entrevista coletiva no início da tarde de 3 de janeiro.
O órgão disse que a decisão foi tomada após cinco horas e meia de deliberação com a equipe especial de investigação da polícia, acrescentando que "lamenta profundamente" a decisão e Yoon por "seu recusa em responder ao devido processo legal". Todos os membros da equipe de investigação conjunta deixaram a residência presidencial após o comunicado.
No dia 3 de janeiro de 2024, em Seul, na Coreia do Sul, membros do órgão de investigação de crimes de funcionários públicos de alto escalão do país e autoridades policiais deixam a residência do presidente deposto da Coreia do Sul, Yoon Seok-yeol
Muitos observadores haviam previsto que o ataque seria difícil de executar, senão impossível, apesar do mandado de prisão.
O principal problema foi o PSO, que é responsável pela proteção do presidente e da primeira família da Coreia do Sul. Depois que o mandado de prisão foi emitido em 31 de dezembro, o PSO publicou um comunicado, dizendo que "cumprirá seus deveres para proteger [Yoon] de acordo com a lei em caso de tentativa de prisão do CIO ".
Em novembro, o PSO havia impedido que os investigadores entrassem na Casa Azul e em um abrigo seguro no centro de Seul ao citar o Código de Processo Penal do país, que proíbe que os investigadores entrem em edifícios militares ou de propriedade do Estado sem o consentimento das pessoas responsáveis.
Membros do PSO mantiveram esse posicionamento durante a tentativa de prisão no dia 3 de janeiro. Apesar da apresentação dos mandados de prisão e busca pelos investigadores do CIO, o PSO continuou a bloquear a entrada dos investigadores, mais uma vez citando o Código de Processo Penal do país e o fato de que a residência presidencial é designada como um "distrito de segurança ". As ações do PSO levaram à "muralha humana" que impediu que os investigadores entrassem na residência.
No dia 3 de janeiro de 2024, em Seul, na Coreia do Sul, os investigadores sul-coreanos tentaram prender Yoon, mas foram impedidos pela equipe de segurança na residência presidencial
Outro problema foi o próprio mandado de prisão.
Os mandados de prisão e busca emitidos pelo tribunal do distrito leste de Seul excluíram explicitamente os artigos 110 e 111 do Código de Processo Penal, que proíbem os investigadores de entrar em edifícios de propriedade militar ou do Estado e apreender documentos pertencentes a funcionários públicos sem o consentimento dos generais militares ou funcionárias do governo. Na Coreia do Sul, o PSO é considerado uma organização militar e seus membros, militares.
Alguns observadores argumentaram que o PSO cometeu um ato ilegal ao bloquear os investigadores do CIO, uma vez que o mandado de prisão não exigia o consentimento do diretor do PSO, Park Jung-joon. No entanto, a legalidade do mandado de prisão permaneceu ambígua, pois as opiniões dentro da comunidade jurídica sul-coreana estavam divididas sobre se o tribunal poderia ou não excluir os artigos 110 e 111 ao emitir o mandado de prisão.
Muitos especialistas jurídicos argumentaram que a decisão do tribunal era inédita e chegava a um excesso judiciário. "Nunca vi nenhuma decisão de tribunal que restrinja arbitrariamente um dispositivo legal e o use como base para emitir um mandado de prisão", disse Kim Sang-gon, um advogado criminal e professor da faculdade de direito da Universidade Sungkyunkwan.
Entretanto, outros especialistas jurídicos argumentaram que, embora o Código de Processo Penal inclua os artigos 110 e 111, os investigadores têm permissão para entrar em edifícios de propriedade do Estado sem o consentimento prévio de generais militares ou autoridades governamentais quando o caso se refere a um crime que ameace os principais interesses do país.
No caso de Yoon, a decisão do tribunal parece ter refletido sua crença de que ele estava planejando uma rebelião interna para derrubar a ordem constitucional do país. O tribunal argumentou que o presidente decretou o primeiro estado de emergência do país no dia 3 de dezembro com o objetivo de interromper a ordem constitucional da Coreia do Sul. O tribunal distrital de Seul, na região leste, decidiu, portanto, excluir os artigos 110 e 111 ao emitir o mandado de prisão.
A decisão do tribunal deixou espaço para que o PSO impedisse que os investigadores do CIO entrassem na residência.
O último problema que pode ter impedido a prisão foi a torcida de Yoon. Milhares de apoiadores de Yoon se reuniram fora da residência presidencial desde 30 de dezembro, quando o parlamento da Coreia do Sul deu início ao impeachment do líder.
No dia 2 de janeiro, cerca de 10 mil apoiadores de Yoon se reuniram em frente à residência, um número que dobrou o comparecimento do dia anterior. O grande número de manifestantes significava que os agentes de segurança provavelmente teriam que usar força ou quebrar a "muralha humana" para chegar ao portão principal da residência.
No dia 2 de janeiro de 2024, em Seul, na Coreia do Sul, apoiadores de Yoon se reúnem fora da residência de seu presidente deposto em protesto contra o impeachment deles pelo parlamento da Coreia do Sul. Um grande telão atrás exibe uma fotografia de Yoon
O que vem a seguir?
Após a tentativa fracassada de prisão, autoridades do CIO disseram que tentariam um novo mandado até o dia 6 de janeiro, data de expiração do atual. Mas não disseram quando tentariam prendê-lo novamente nem se usariam força.
No início da tarde do dia 3 de janeiro, um dia depois da tentativa de prisão, a equipe de investigação composta pelo CIO e pela equipe especial de investigação da polícia abriu uma investigação contra o PSO por obstrução da justiça e exigiu que Park comparecesse à equipe no dia 4 de janeiro.
O Código de Processo Penal da Coreia do Sul exige que os promotores solicitem um mandado de detenção no prazo de 48 horas após a prisão de um suspeito. Se não conseguirem, o suspeito deve ser libertado.
O CIO disse que solicitaria a detenção de Yoon caso a prisão tivesse sucesso. Mas não revelou se seus investigadores já haviam preparado para uma possível detenção de Yoon, como designar um local para interrogatório.
No dia 3 de janeiro, o tribunal constitucional da Coreia do Sul concluiu seu segundo depoimento pré-julgamento e anunciou que o processo de impeachment de Yoon no tribunal superior começaria com um debate público no dia 14 de janeiro e um segundo no dia 16 de janeiro.
Mas a luta de Yoon está longe de terminar. O processo de impeachment pode resultar em seu afastamento do cargo e acionar eleições presidenciais dentro de 60 dias. Caso o tribunal constitucional derrube o impeachment, Yoon será reinstalado como presidente do país.