Congresso dos EUA reedita peça de circo no dia da reabertura, diz deputado: guerra civil dentro do partido republicano começou

Congresso dos EUA reedita peça de circo no dia da reabertura, diz deputado: guerra civil dentro do partido republicano começou

No local, era um sexta-feira, 13 de janeiro - o primeiro dia de sessão do

119º Congresso dos Estados Unidos. Pela volta do mundo, pessoas com gosto por teatro político americano encheram o saco de pipoca e se instalaram em suas poltronas.

O principal evento do dia, com o martelo da Câmara dos EUA batendo e as câmeras rolando,

foi a reeleição pelo Partido Republicano da Câmara do radical e de extrema direita, Mike Johnson, um campeão de Donald Trump que, para dizer o mínimo, teve dificuldade para juntar os votos para isso.

No fim, Johnson recebeu 218 votos - o mínimo necessário para ser presidente da Câmara, assim como o mínimo necessário para aprovar um projeto de lei. O líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, recebeu 215 votos, pois todos os democratas da Câmara votaram nele. O congressista republicano Thomas Massie, que vinha dizendo que não votaria em Johnson, votou no líder republicano da Câmara Tom Emmer.

Johnson, em um momento preservado pelas câmeras, fica em pé enquanto uma multidão de congressistas republicanos o aplaude. Mas, para esse pequeno momento de triunfo, ele teve que sofrer.

Como a maioria se voltou contra um líder

Na eleição nacional de novembro passado, os republicanos conseguiram 220 cadeiras na Câmara dos Representantes e os democratas ganharam 215 cadeiras.

Já foi a margem mais estreita para o partido maioria desde os piores tempos da

Grande Depressão

(1931)- e, em um sinal ameaçador, as coisas só pioraram a partir daí. Primeiro, teve Trump indicando o congressista ultraconservador Matt Gaetz para procurador-geral dos EUA, apenas para que o desfile de escândalos de Gaetz causasse uma revolta pública - e então Gaetz disse que não voltaria

ao Congresso

.

Isso nos leva à manhã de sexta-feira, depois que o Capitólio foi limpo de casos de covid-19 ômicron persistentes e decorado novamente para a temporada de posse. Na medida em que a sessão começou, os republicanos controlavam apenas 219 cadeiras. Para que Johnson fosse reeleito, ele precisaria de 218 dos 435 votos totais na Câmara.

E embora a maioria dos republicanos tenha votado do jeito de Johnson - afinal

ele é o único homem que não tem o nome de Donald Trump

que a bancada da extrema direita do partido oferecia - muitos congressistas não estavam tão dispostos a se comprometer com uma fidelidade de longo prazo. Johnson, assim como o líder republicano da Câmara Kevin McCarthy antes dele, teria que lutar por cada voto.

Massie foi o primeiro "não" a surgir. O congressista do Kentucky, apoiado pelo Tea-Party,tudo

nunca teve grande utilidade para líderes de partido ou figuras nacionais, de extrema direita ou não

, e ele se opôs a Johnson desde o início.

Uma vez que a votação congressional para a reeleição de Johnson estava em curso, mais dois "nãos" foram vistos. Ambos os congressistas, Ralph Norman da Carolina do Norte e Keith Self do Texas, são membros de algo chamado de House Freedom Caucus. Embora sejam trumpistas de bom senso - Self, por exemplo, disse que votou contra o líder da minoria da Câmara McCarthy "porque eu apoiava o ex-presidente e achei que ele deveria ser o presidente da Câmara" - o Freedom Caucus tem interesses próprios especiais. O grupo

exigiu cortes grandes no gasto

da Casa Branca de Trump, e no mês passado votou contra o Johnson apoiado por McCarthy porque - você adivinhou - por objeções às medidas orçamentárias num orçamento continuado apenas para conseguir o financiamento do governo federal até fevereiro ou março.

Isso foi demais para os democratas da Câmara. Enquanto eles ficavam no plano de fundo com braços cruzados - eles não tinham nada a perder - o líder democrata da Câmara, o congressista de Nova York Jeffries, enviou um texto. "Acredite você ou não? É o Dia 1... e a guerra civil republicana está em pleno fervor!"

Jeffries estava canalizando o sentimento em Janeiro de 2023. Esse mês

Kevin McCarthy teve muito mais dificuldade do que o esperado para tentar ser eleito presidente da Câmara. Após passar por

15 votações diferentes durante três dias inteiros de debate, McCarthy conseguiu apenas uma vitória de 213 votos a 210, com 19 republicanos recusando-se a seguir em sua direção. E até mesmo isso acabou não ajudando McCarthy por

muito tempo

. Apenas um pouco mais de cinco meses depois, no meio de junho, 22 republicanos perderam a paciência e McCarthy foi forçado a renunciar à liderança da Câmara.

Agora estava mais uma vez o Partido Republicano, sem líder e, com Trump mesmo ainda no banco dos réus num processo de impeachment do Senado após ser julgado por incitação à assassinar após 6 de janeiro de 2021. Desta vez foi Johnson quem ficou em apuros e as câmeras e feeds de tweets entraram em overdrive.

"Johnson parece que perdeu a primeira rodada", disse um

usuário do Twitter

, e uma série de outros posts sociais foram na mesma direção, sendo logo pegas pelo

alguns titulares noticiosos

.

Mas então algo inesperado aconteceu. Alguns congressistas republicanos começaram a discar e uma chamada foi encaminhada para um certo presidente dos EUA que não servirá até o fim de seu actual mandato. Em poucos minutos - as câmeras mantiveram o relógio em tela - Trump estava ao telefone, presumivelmente com aqueles congressistas que haviam votado contra McCarthy.

Não demorou muito para Self e Norman, ambos membros do House Freedom Caucus, começarem a votar do jeito de Johnson novamente, como claramente foi exigido por Trump. O resto é

câmara dos deputados história

.

Mas o drama ainda estava em andamento. Dentro de apenas alguns minutos

um novo comunicado do House Freedom Caucus apareceu

reivindicando vitória como eles mesmos sendo os reis criadores de Johnson, declarando terem votado a favor de Johnson "por nosso firme apoio ao presidente Trump ... para que possamos certificar imediatamente ... os resultados da eleição presidencial."

Eles também emitiram mais ordens:

O presidente da Câmara Mike Johnson "deve ... imediatamente implementar sua promessa de reduzir os gastos do governo federal antes que qualquer aumento adicional do limite da dívida seja

pursued," and he "must not send legislation to the floor that cannot pass without Democrat support.”

Este foi o primeiro de muitas mensagens que Johnson pode esperar vir da maioria ultradireitista, ditada por Trump, a ser seguida nos próximos meses. Ele conseguiu,

apenas

reeleito e agora deve começar a trabalhar na primeira série de projetos de lei que vai ser necessário para fazer a nova "governo do Trump Two-O" em funcionamento - projetos de lei que irão precisar para passar com zero votos discordantes do lado republicano. Apenas um voto perdido significaria uma completa

derreter legislativo em cerca de uma hora

.

O novo presidente precisa do novo presidente da câmara para fazer muitas, muitas coisas importantes. Na primeira fila, Trump quer seus próprios fiéis substituírem oficiais de nível sênior no Pentágono. Ele já

nomeou o congressista de Flórida Mike Waltz para substituir H. R. McMaster, o principal assessor de segurança nacional, e a congressista de Nova York Alice Stefanik vai tomar o papel de embaixadora na ONU. Trump, que é investidor imobiliário, afirma também já ter arrumado os serviços do congressista de Nova York Scott Moran, chefe do Comitê de Estudos Republicano na Câmara, para encabeçar a Agência de Finanças Imobiliárias Federal - que supervisiona as empresas de hipoteca de patrocínio do governo Fannie e Freddie. Estas são posições de alto escalão e

nenhuma delas requer confirmação do Senado

, portanto, espere que todos os três renunciem à Câmara - e no caso de Waltz até ao Senado - logo que Trump os nomear formalmente.

O "novo pacto para a América" de Trump?

Todas essas posições são de alto nível que precisam ser ocupadas e Trump é presidente apenas por cerca de 200 dias úteis de trabalho. Ele manterá pressão sobre o Johnson para fazer os movimentos que ele quer como gostaria de vê-los, o mais rápido possível. Ao fazê-lo, Johnson terá que ser cuidadoso para não desencadear nenhuma nova revolta legislativa republicana pelo menos outros meio-ano ou assim

antes de Trump mesmo estar fora do cargo e fora do alcance político, também.

O que isso significa é que Johnson e a maioria republicana da Câmara estarão ocupados durante todo o ano. O House Freedom Caucus não vai parar de exigir cortes orçamentários e é duvidoso que essas exigências possam ser totalmente atendidas sem que as promessas feitas a outras facções, como os ex-rançons pró-Trump do House Freedom Caucus, sejam quebradas.

E há outros problemas urgentes - como o teto da dívida nacional, por exemplo.

No dia 2 de janeiro, o teto da dívida dos Estados Unidos foi restaurado para o pré-resgate-trump-e-quebra-de-impôstos-para-os-ricos US$ 31,381 trilhões que ela atingiu no início do ano passado, e desde então o secretário do Tesouro dos EUA Janet Yell, um democrata moderado, tem vindo

pedindo que o Congresso aumente a dívida

para que o governo federal não tivesse que descumprir alguma de suas obrigações. Apenas na última sexta-feira,

depois do drama da votação no Congresso

, ela mandou um novo recado para o Congresso dizendo que o Tesouro dos EUA não poderá contrair novos fundos em cerca de duas semanas, entre o dia 14 de janeiro e o dia 23 de janeiro. Isso é exatamente por volta do momento que Trump vai fazer o seu grande

"Vamos ter um ano fantástico, pessoal!"

discurso de posse. O Tesouro disse que há algumas medidas internas de "emergência" que podem ser tomadas para permitir que a contratação siga após 23 de janeiro - o total de medidas para mais apenas uns dois meses de gasto - e embora isso dará certo tempo para Johnson, ele terá que se dedicar também ao teto da dívida.

Ele não pode se dar ao luxo de não fazer isso, principalmente com todos os projetos de lei de estímulo trumpianos que ele vai ter que passar. Lembre-se que

Johnson concorreu como o candidato do "novo Pacto para a América"

, um programa de novas despesas federais em rodovias e pontes primeiro prometido logo no final do ano de 2022 por Trump e o então vice-presidente Pence. Foi uma promessa ao povo, diz Johnson, e ele a tornará a primeira e mais alta ordem dos negócios do Congresso.