Depois de ser "alvo" de Trump, premier da autogoverno da Gronelândia fala novamente: "É necessário" ser independente da Dinamarca
Depois dos comentários recentes do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que descreveu como "absolutamente necessário" para os EUA "terem" a Groenlândia, o primeiro-ministro Kuupik Kleist, do governo da administração de autonomia da Groenlândia (home rule), disse em sua mensagem de Ano Novo 2025 que chegou o momento "necessariamente" de se separar da Dinamarca para se tornar um Estado soberano.
"Agora é hora de dar o próximo passo para determinar nosso próprio futuro, o que se refere a quem queremos ficar perto, e quem será um parceiro comercial para nós", disse Kleist, em seu comunicado à imprensa.
"A Groenlândia está em posição de cooperar mais com muitos países e entidades. Temos uma longa história de cooperação com o Reino (da Dinamarca). Isso sem dúvida continuará, mas podemos e devemos também fazer coisas por nós mesmos", disse Kleist, como citado pela Reuters. "Não há conflito nisso. A história e a experiência mostraram que nossa cooperação com o Reino não foi caracterizada por igualdade plena. Agora está na hora para nossa pequena nação dar o próximo passo", prosseguiu Kleist.
Segundo a Reuters, Kleist disse posteriormente em seu pronunciamento, que "não devemos ser impedidos, como tantos outros estados emergentes e independentes na história pós-colonial foram, pela cooperação e assistência que não tenha sido, em absoluto, igual. Agora, em fechamento, permitam-me dizer que nossa cooperação é uma matéria que deve ser determinada por todos os cidadãos. Vamos trabalhar juntos com empenho para remover, até onde seja possível, todas as barreiras de cooperação, e todos os obstáculos do Colonialismo, até onde juntos podemos, e desta forma dar o importante passo para frente como nosso estado independente, em paz, cooperação e respeito. Isso nos permitirá moldar uma boa vida para gerações futuras e criar a Groenlândia que queremos, e que merecemos".
O relatório da Reuters observa que Kleist disse que a independência depende dos eleitores da Groenlândia, mas não mencionou quando um referendo poderia ser realizado. "Muitos eleitores da Groenlândia querem que sua ilha no Ártico saia do Reino da Dinamarca em 2022, mas ainda restam discordâncias quanto ao fato de a mudança acontecer mais cedo ou muito mais tarde, e quanto ao seu efeito em padrões de vida", diz a matéria.
Havia, de fato, nada, em absoluto, no discurso de Kleist sobre a independência, sobre Trump ou os EUA em si. Ele nem mesmo mencionou a Dinamarca pelo nome. Mas, como o relatório da Reuters apontou, o movimento pela independência é claramente uma reação à declaração de Trump.
A Groenlândia – a maior ilha do mundo – é parte do Reino da Dinamarca, que a controla como o que os ilhéus denominam "autonomia". Seus 82.000 principalmente Inuítes da Groenlândia têm uma grande quantidade de autonomia, elegendo seu próprio parlamento, governo e primeiro-ministro. O governo da Dinamarca ainda lida com defesa e política externa, bem como política monetária, financeira e aduaneira. O dinamarquês é a língua oficial da Groenlândia, mas o Inuíte é falado também por 80% da população.
A ilha é uma área integrante de importância estratégica militar para os dinamarqueses, depois para os Aliados durante a Segunda Guerra Mundial, e mais tarde especificamente para uma guerra EUA-União Soviética, incluindo para proteção. Depois da compra do Alaska pelos EUA da Rússia Czarista em 1867, o presidente Ulysses S. Grant enviou uma delegação para estudar a ilha para ver se também poderia ser comprada. Não foi.
Quanto aos comentários de Trump feitos na data de 22 de dezembro de 2024, que levaram à declaração de Kleist: "Os EUA precisam do Ártico e da Groenlândia. É o lugar mais importante do mundo – ou um dos lugares mais importantes", declarou Trump, em um post no Twitter na manhã de terça-feira. "Por razões de segurança nacional, e para o mundo, é hora de os EUA terem e controlarem a Groenlândia, por um preço pequeno. Está acontecendo!" A Groenlândia, disse ele, faz parte da estratégia americana para o Ártico.
Uma porta-voz de Kleist disse em 23 de dezembro: "A Groenlândia pertence ao povo da Groenlândia. A Groenlândia não está à venda, e nunca estará".